Ansiedade parece ser um mal moderno, embora seja uma das emoções mais fundamentais da vida humana, tão primitiva que antecede a própria razão, já que todos os mamíferos demonstram sentir ansiedade em algum nível, sempre em situações críticas.
Ansiedade é uma resposta psicológica à insegurança inerente às pessoas.
Sempre que nos deparamos com o desconhecido, ou a possibilidade de precisarmos lidar com incertezas, os medos afloram, em alguma intensidade e isto dispara processos de ansiedade.
Algumas definições simplificam a visão sobre a ansiedade como excesso de futuro e não está completamente errado.
Quando projetamos o futuro, o que é necessário, avaliamos múltiplas possibilidades diante dos cenários que se apresentam e a possibilidade de algo dar errado, em algum grau, desenvolve a ansiedade por esta perspectiva.
A ansiedade desenvolve processos cumulativos, essencialmente quando não a reconhecemos, ignoramos ou decidimos não lidar com ela, apenas fugindo, por falta de coragem ou iniciativa em resolver sua origem.
Ansiedade, como todas as nossas emoções, não possui cura, apenas controle e tudo parte do princípio que é preciso conhecer a ansiedade, entender seus processos e reconhecer os gatilhos, sintomas e como lidar com ela.
Ansiedade costuma deixar um rastro importante de outros problemas associados e, em sua evolução e acúmulo, podem causar graves circunstâncias que impactam diretamente na qualidade de vida das pessoas e é sobre isto que vamos falar neste conteúdo.
Ansiedade. A história
Ansiedade parece funcionar como uma espécie de montanha-russa, que em alguns momentos leva você ao topo de um movimento intenso, enquanto em outros despenca, desarrumando todo o seu equilíbrio mental, com aquela sensação de alerta máximo, coração acelerado, pensamentos a mil por hora.
De repente, a ansiedade que te colocou lá em cima, te joga lá pra baixo, num turbilhão de medo, preocupação e insegurança.
É uma emoção complexa, que mexe com a gente de várias formas, e que merece ser compreendida a fundo.
A ansiedade, na real, é uma reação natural do nosso corpo.
É como se fosse um sistema de alarme, que dispara quando a gente se sente ameaçado.
Se você cruzar com um leão na rua, por exemplo, é a ansiedade que vai te dar aquele gás pra correr o mais rápido que puder!
O problema é que, às vezes, esse alarme dispara sem motivo real, ou então fica ligado o tempo todo, transformando a vida num caos.
Vamos voltar um pouco no tempo, pra entender como surgiram os primeiros estudos sobre o tema.
No final do século XIX e início do século XX, alguns estudiosos muito inteligentes começaram a se debruçar sobre o tema.
Um deles foi Sigmund Freud, o pai da psicanálise.
Ele via a ansiedade como um sinal de conflito interno, tipo uma luta entre o que a gente deseja e o que a sociedade espera da gente.
Outro personagem importante foi Carl Jung, que acreditava que a ansiedade estava ligada aos nossos medos mais profundos, aqueles que a gente esconde lá no inconsciente.
Ele falava que esses medos podiam ser herdados dos nossos ancestrais, tipo um medo ancestral de cobras, por exemplo.
Já Alfred Adler, outro grande nome da psicologia, via a ansiedade como uma forma de lidar com a sensação de inferioridade.
Segundo ele, a gente se sente ansioso quando acha que não é bom o bastante, que não vai dar conta do recado.
Esses estudiosos foram pioneiros em entender a ansiedade, cada um com sua visão e as pesquisas continuaram evoluindo, com novos estudiosos e novas descobertas.
Hoje em dia, a sabemos que a ansiedade tem várias causas, desde fatores genéticos até experiências de vida.
E o mais importante: já sabemos como tratar e controlar o problema.
Processos orgânicos e impactos…
Adentrando o fascinante mundo da neurociência, podemos desvendar os mecanismos intrincados que desencadeiam a ansiedade.
Imagine o cérebro como uma orquestra complexa, com diversas áreas interconectadas, cada uma com sua função específica.
Quando se trata de ansiedade, algumas áreas assumem o papel de protagonistas, como a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal.
A amígdala, uma pequena estrutura em forma de amêndoa, atua como um sistema de alarme, detectando ameaças e ativando a resposta de “luta ou fuga”.
É como se fosse um vigia atento, sempre em busca de perigos.
O hipocampo, por sua vez, armazena memórias emocionais, permitindo que o cérebro reconheça situações potencialmente perigosas com base em experiências passadas.
Imagine isto como um arquivo de experiências emocionais, que ajuda a amígdala a identificar ameaças.
Já o córtex pré-frontal, responsável por funções executivas como planejamento e tomada de decisões, atua como um regulador da amígdala, ajudando a avaliar a real dimensão da ameaça e a modular a resposta de medo.
É como se fosse um gerente, que analisa a situação e decide a melhor forma de agir.
Em situações de ansiedade, essa orquestra cerebral pode entrar em desarmonia.
A amígdala, superativada, dispara o alarme a todo momento, mesmo na ausência de perigo real.
O hipocampo, por sua vez, pode trazer à tona memórias negativas, intensificando a sensação de medo.
O córtex pré-frontal, por vezes, não consegue exercer seu papel de regulador, permitindo que a ansiedade tome conta.
Essa disfunção nos mecanismos cerebrais da ansiedade pode gerar uma série de impactos na qualidade de vida.
No âmbito físico, a ansiedade crônica pode levar a problemas como dores de cabeça, tensão muscular, problemas gastrointestinais, distúrbios do sono e até mesmo doenças cardiovasculares.
No âmbito psicológico, a ansiedade pode prejudicar a concentração, a memória, o desempenho profissional e os relacionamentos interpessoais, além de aumentar o risco de desenvolver outros transtornos mentais, como depressão.
A ansiedade, portanto, é uma condição complexa que envolve uma série de mecanismos neurobiológicos e pode ter impactos significativos na vida das pessoas.
Compreender esses mecanismos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento.
A ansiedade, quando persistente e desregulada, tece uma teia complexa de impactos que se estendem por todo o organismo humano, afetando tanto a saúde mental quanto a física.
É como uma reação em cadeia, onde o desequilíbrio inicial dispara uma série de consequências que podem comprometer significativamente a qualidade de vida.
No âmbito da saúde mental, a ansiedade crônica pode ser a porta de entrada para o desenvolvimento de outros transtornos.
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), por exemplo, caracteriza-se por uma preocupação excessiva e persistente com diversos aspectos da vida, gerando um estado constante de tensão e apreensão.
Já no Transtorno do Pânico, a ansiedade se manifesta em crises agudas e intensas de medo, acompanhadas de sintomas físicos como palpitações, sudorese e falta de ar.
A ansiedade também pode ser um fator de risco para a depressão.
Imagine que a ansiedade coloca o corpo em estado de alerta constante, como se estivesse sempre diante de uma ameaça iminente.
Esse estado de hiper vigilância consome muita energia física e emocional, levando ao esgotamento e à sensação de desesperança, características da depressão.
A ansiedade pode estar associada ao desenvolvimento de transtornos obsessivo-compulsivos (TOC).
As obsessões, que são pensamentos intrusivos e persistentes, geram ansiedade intensa, levando o indivíduo a realizar compulsões, que são comportamentos repetitivos com o objetivo de aliviar a ansiedade.
No que se refere à saúde física, a ansiedade crônica impacta diversos sistemas do organismo.
O sistema cardiovascular, por exemplo, é constantemente sobrecarregado pelo estado de alerta, o que pode levar ao aumento da pressão arterial, arritmias cardíacas e até mesmo doenças coronarianas.
O sistema digestivo também sofre as consequências da ansiedade.
A liberação de hormônios do estresse, como o cortisol, altera o funcionamento do intestino, podendo causar sintomas como dores abdominais, diarreia, constipação e síndrome do intestino irritável.
A ansiedade crônica ainda pode afetar o sistema imunológico, tornando o indivíduo mais suscetível a infecções.
O cortisol, em níveis elevados, suprime a resposta imune, diminuindo a capacidade do organismo de combater agentes patogênicos.
Outro impacto importante da ansiedade é a alteração do sono.
A dificuldade em relaxar e “desligar” os pensamentos ansiosos leva à insônia, o que, por sua vez, agrava a ansiedade, criando um ciclo vicioso.
A privação do sono aumenta a irritabilidade, prejudica a concentração e a memória, e contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde física e mental.
É fundamental destacar que a ansiedade não é um problema “apenas na cabeça”.
Seus impactos na saúde humana são reais e abrangentes, podendo levar a complicações graves se não forem tratados adequadamente.
A busca por ajuda profissional é crucial para o diagnóstico preciso e para o desenvolvimento de estratégias eficazes de manejo da ansiedade, visando a uma melhor qualidade de vida.
O papel da fisioterapia e osteopatia no tratamento do problema
A fisioterapia e a osteopatia, tradicionalmente associadas ao tratamento de disfunções musculoesqueléticas, têm se destacado como importantes aliadas no manejo da ansiedade e seus impactos na saúde.
Através de uma abordagem holística, que considera a interação entre corpo e mente, essas práticas oferecem ferramentas valiosas para o alívio dos sintomas e a promoção do bem-estar.
Atuação no Alívio da Ansiedade…
A fisioterapia e a osteopatia atuam no alívio da ansiedade por meio de diferentes mecanismos:
1 – Relaxamento muscular:
Técnicas de massagem, alongamento e liberação miofascial ajudam a reduzir a tensão muscular, comum em quadros de ansiedade, onde a tensão muscular crônica, além de gerar dor e desconforto, envia sinais ao sistema nervoso que podem perpetuar o estado de alerta e ansiedade e ao promover o relaxamento muscular, a fisioterapia e a osteopatia contribuem para a interrupção desse ciclo vicioso.
2 – Equilíbrio do sistema nervoso autônomo:
O sistema nervoso autônomo, responsável por regular funções vitais como respiração, frequência cardíaca e digestão, é frequentemente desregulado em pessoas com ansiedade.
A fisioterapia, através de técnicas como a respiração diafragmática e exercícios de relaxamento, ajuda a modular o sistema nervoso autônomo, promovendo o equilíbrio entre os sistemas simpático (responsável pela resposta de “luta ou fuga”) e parassimpático (responsável pelo relaxamento).
A osteopatia, por sua vez, utiliza técnicas manuais sutis para restaurar o equilíbrio do sistema nervoso autônomo, atuando sobre o crânio, a coluna vertebral e o sistema visceral.
3 – Melhora da postura:
A ansiedade pode levar a alterações posturais, como ombros curvados e pescoço projetado para frente, que, por sua vez, podem perpetuar a sensação de tensão e apreensão.
A fisioterapia e a osteopatia, através de exercícios de correção postural e técnicas de mobilização articular, ajudam a restabelecer o alinhamento corporal, promovendo a sensação de bem-estar e confiança.
4 – Liberação de endorfinas:
A prática de exercícios físicos, orientada por fisioterapeutas, estimula a liberação de endorfinas, neurotransmissores que promovem a sensação de prazer e bem-estar, auxiliando no combate aos sintomas da ansiedade e da depressão.
Resolução de Problemas Orgânicos Associados à Ansiedade…
A fisioterapia e a osteopatia também atuam na resolução de problemas orgânicos associados à ansiedade, como:
1 – Dores de cabeça tensionais:
A tensão muscular crônica na região do pescoço e dos ombros, comum em quadros de ansiedade, pode desencadear dores de cabeça tensionais.
A fisioterapia e a osteopatia, através de técnicas de massagem, alongamento e mobilização, ajudam a aliviar a tensão muscular e a restaurar a mobilidade da coluna cervical, aliviando as dores de cabeça.
2 – Problemas gastrointestinais:
A ansiedade pode afetar o funcionamento do sistema digestivo, causando sintomas como dores abdominais, diarreia, constipação e síndrome do intestino irritável.
A osteopatia visceral, através de técnicas manuais suaves, atua sobre os órgãos do sistema digestivo, promovendo a sua mobilidade e função, e auxiliando no alívio dos sintomas.
3 – Distúrbios do sono:
A dificuldade em relaxar e “desligar” os pensamentos ansiosos pode levar à insônia.
A fisioterapia, através de técnicas de relaxamento e educação para o sono, ajuda a promover o relaxamento e a higiene do sono, contribuindo para a melhora da qualidade do sono.
Pioneiros na Abordagem da Fisioterapia em Problemas Emocionais:
Françoise Mézières:
Fisioterapeuta francesa que desenvolveu o método Mézières, que se baseia na reeducação postural e no alongamento global das cadeias musculares.
Mézières observou que as tensões musculares crônicas e as alterações posturais estavam relacionadas não apenas a problemas físicos, mas também a distúrbios emocionais como a ansiedade.
O método Mézières busca liberar as tensões musculares e restaurar o equilíbrio postural, promovendo o bem-estar físico e emocional.
Philippe Souchard:
Fisioterapeuta francês que desenvolveu o método RPG (Reeducação Postural Global), que também se baseia na reeducação postural e no alongamento global das cadeias musculares.
Souchard observou que as emoções podem influenciar a postura e o tônus muscular, e que o trabalho corporal pode ter impacto positivo no estado emocional.
O RPG busca corrigir as alterações posturais e promover o equilíbrio muscular, contribuindo para o alívio da ansiedade e a melhora da qualidade de vida.
Exemplos de Resultados Proeminentes:
Estudos têm demonstrado a efetividade da fisioterapia e da osteopatia no tratamento da ansiedade.
Um estudo publicado no Journal of Bodywork and Movement Therapies (2017) mostrou que a osteopatia craniana foi eficaz na redução da ansiedade e na melhora da qualidade de vida em pacientes com ansiedade generalizada.
Outro estudo, publicado no Physical Therapy (2018), demonstrou que a fisioterapia, incluindo exercícios de relaxamento e técnicas de respiração, foi eficaz na redução da ansiedade em pacientes com transtorno do pânico.
A fisioterapia e a osteopatia, portanto, se apresentam como ferramentas valiosas no tratamento da ansiedade, oferecendo uma abordagem complementar que visa o bem-estar global do indivíduo.
Através de técnicas que promovem o relaxamento muscular, o equilíbrio do sistema nervoso autônomo, a correção postural e a resolução de problemas orgânicos associados à ansiedade, essas práticas contribuem para a redução dos sintomas, a melhora da qualidade de vida e a prevenção de complicações.
É importante ressaltar que a fisioterapia e a osteopatia devem ser parte de um plano de tratamento multidisciplinar, que pode incluir também terapia cognitivo-comportamental, medicação e outras abordagens, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.
Ansiedade precisa ser encarada de frente para ser controlada
Ansiedade é um mecanismo de defesa programado em nossa essência, a partir de nossa genética e nossa constituição, porque faz parte de nossos processos de preservação e defesa.
A maioria dos nossos processos funcionam assim e é perfeito que tenhamos estes resultados evolutivos.
O problema é quando perdemos o controle e estas características assumem um impacto muito mais, em seus sintomas e suas consequências.
Conhecer e reconhecer o problema é a chave.
Estarmos alertas aos sinais de que a ansiedade saiu dos níveis naturais e passou a ameaçar o conjunto global de saúde da pessoa e, por consequência, a sua qualidade de vida.
A fisioterapia e a osteopatia são essenciais no apoio e sustentação dos tratamentos da causa e das suas consequências.
Cuidar da saúde é básico para cada indivíduo e obter a ajuda necessária e competente na busca das melhores soluções é essencial.
É neste ponto que a fisioterapia e osteopatia se apresentam como uma solução presente na maioria dos casos, porque é uma ciência completa, que cuida da pessoa, não da doença; cuida da solução e não do problema; cuida da felicidade, que é o único motivo para continuarmos em nossa caminhada.